Em palestra proferida para os candidatos à Magistratura do Acre, sob o título “História do Acre”, no último dia 30 de agosto, no Palácio da Justiça, o desembargador aposentado Arquilau Melo discorreu, minuciosamente, sobre os dois ciclos econômicos da borracha na Amazônia, suas causas e consequências. O primeiro ciclo (1890/1920) foi promovido, segundo o palestrante, pela iniciativa privada, “para suprir o interesse das indústrias da Europa e dos Estados Unidos, que naquele determinado momento histórico se achavam no auge da revolução industrial”.
E para fomentar o fabrico da borracha foram instaladas em Belém e Manaus as casas aviadoras, como eram conhecidos os estabelecimentos comerciais que emprestavam dinheiro aos seringalistas e forneciam mercadorias e, em troca, recebiam a produção da borracha e a exportavam para a América do Norte e Europa.
Os seringueiros, segundo o palestrante, eram nordestinos, principalmente os cearenses, que eram estimulados para vir para a Amazônia com a promessa de que logo poderiam retornar ricos ao seu Estado natal. Aqui, contudo, enfrentavam enormes desafios e não podiam, salvo raras exceções, retornar a sua terra porque não conseguiam pagar as dívidas. “O seringueiro, quando era instalado numa colocação de seringa, já estava muito endividado porque tinha de comprar todos os utensílios para a fabricação da borracha ao seringalista, além de alimentos, que nem sempre conseguia retirar da floresta”, disse.
O desembargador discorreu, também, sobre a expedição ao Acre do escritor Euclides da Cunha, que percorreu o rio Purus por cerca de seis meses, presidindo, pelo lado brasileiro, a Comissão Mista que o Brasil e Peru organizaram para pôr fim a contendas que eram travadas ao longo dos rios Purus e Juruá, entre seringueiros brasileiros e caucheiros peruanos.
Euclides da Cunha quando aqui esteve, segundo ele, já era um escritor famoso, eis que já havia publicado a obra-prima “Os Sertões” e era membro da Academia Brasileira de Letras. O escritor veio para a Amazônia com o objetivo de escrever o que chamou de seu segundo livro vingador, para o qual já tinha até título: “Um Paraíso Perdido”. Depois de percorrer o Purus, tornou-se um crítico ferrenho da exploração dos seringais e cunhou algumas frases duras a respeito, tais como “O seringueiro trabalha para escravizar-se” e “A estrada de seringa é como um polvo a devorar o seringueiro”.
O fim do primeiro ciclo da borracha, segundo Arquilau, ocorreu com a produção de forma racional da borracha nas colônias inglesas da Ásia, particularmente Malásia e Siri Lanka. Os ingleses levaram sementes da borracha da Amazônia e plantaram naquelas colônias e, em poucos anos, colocaram no mercado um produto por preço muito inferior à borracha brasileira, que não teve condições para concorrer e daí adveio o fim de um ciclo econômico que em determinado momento era o segundo produto da pauta de exportação brasileira, somente perdendo para o café produzido no Sudeste.
Para fazer os candidatos à magistratura entenderem melhor como se processou o segundo ciclo da borracha, foi exibido o documentário “Borracha Para Vitória”, do cineasta cearense Wolney Oliveira, em que há depoimentos de historiadores e de alguns soldados da borracha que sobrevieram para contar suas histórias.
A palestra faz parte do calendário de atividades do Curso Oficial para Ingresso na Carreira da Magistratura, promovido pela Escola do Poder Judiciário do Acre (Esjud).
Ao final do documentário, o desembargador Francisco Djalma, diretor da Esjud, falou da importância de o magistrado conhecer o mínimo da história dos seus jurisdicionados como fator fundamental para o exercício da magistratura. Já o presidente da Associação dos Magistrados do Acre (Asmac), Raimundo Nonato, refletiu sobre aquele dado momento histórico dizendo aos candidatos que os jurisdicionados do Acre são aqueles homens e seus descendentes que deram a vida para construir o Estado.
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