Trabalho, apoiado pelo Tribunal de Justiça do Acre (TJAC) e desenvolvido pela Município de Rio Branco, garante que crianças em situação de vulnerabilidade tenham o carinho de uma família que as acolhe provisoriamente
Solidariedade, inspiração e amor são algumas das emoções despertadas quando se conhece a história do professor Francisco da Conceição Ferreira e da costureira Marizete Silva da Rocha. No auge da pandemia da COVID-19, na capital acreana, em março deste ano, o casal acolheu em casa uma criança de 10 anos de idade e um recém-nascido.
As crianças precisavam de cuidados, acompanhamento e atendimentos médicos por terem saído de uma situação de abuso, mas, o desafio foi encarado pelo casal, que é uma das seis famílias no Acre cadastradas no Serviço de Acolhimento Familiar (SAF). A ação têm o apoio do Tribunal de Justiça do Acre (TJAC), por meio da Coordenadoria da Infância e Juventude (CIJ), e é desenvolvida pela Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos de Rio Branco.
O trabalho tem a missão de propiciar que crianças e adolescentes, em situação de vulnerabilidade, sejam recebidas em um lar e não direcionadas para instituições. Assim, essas crianças ou adolescentes ficam provisoriamente com famílias acolhedoras pelo período que se busca a reintegração na família biológica.
Pais de três filhos, Marizete e Francisco receberam durante cinco meses as duas crianças. A menina veio do interior do Acre grávida, vítima de estupro. Ela foi acolhida na residência do casal, quando estava prestes a ganhar o neném, ao mesmo tempo que a Rede de Proteção da Criança e do Adolescente, uma força-tarefa que articula o trabalho de diversas instituições, como o Judiciário do Acre e o Serviço de Acolhimento Familiar, buscava algum parente da família extensa que desejasse recebê-los para que fossem reinseridos na família biológica.
A desembargadora Regina Ferrari, coordenadora da CIJ, e a juíza-auxiliar da presidência do TJAC, Andréa Britto, a promotora de Justiça Vanessa Muniz e servidores da prefeitura e do Judiciário, visitaram, na quinta-feira, 15, a família acolhedora e a família biológica, levando presentes e agradecimentos.
Faça hoje!
Emocionada, Marizete falou sobre o apoio de todos no período de acolhida. “Já acolhia meu pai que era deficiente visual e todas as vezes, todos os dias que precisávamos a equipe nos ajudou, porque sozinhos a gente não consegue. Só tenho a agradecer essa força enorme da equipe. Esse trabalho de solidariedade todo mundo é capaz de fazer e eu aprendi muito com eles dois, foi uma experiência com dificuldades, mas um grande aprendizado para gente”, agradeceu a costureira.
Como a situação das duas crianças era delicada, a equipe da prefeitura chegou a ficar em lugar isolado dentro de unidade hospitalar quando o bebê teve suspeita de contaminação pelo novo coronavírus. Conforme explicou Crispim Machado, coordenador do Serviço de Acolhimento Familiar, foi um caso delicado, em feriados e finais de semana a equipe, composta de seis servidores, revezou junto à família acolhedora em plantões no hospital, devido a complicações após o parto.
Todo esse empenho pode ter ainda mais resultados, desde que mais pessoas ajudem. As condições são: ser maior de 21 anos de idade, não ter antecedentes criminais, residir em Rio Branco e não estar inscrito no cadastro de adoção nas varas especializadas da infância e juventude. Interessados podem entrar em contato com o SAF pelos telefones (68) 99946-5457 ou 99221-6494.
Não há restrições de gênero, raça ou orientação sexual, apenas é preciso desejar cuidar, dar carinho e ter disponibilidade para atender temporariamente a criança ou adolescente. Afinal, como aconselhou Marizete, é preciso coragem para agir agora. “Se formos esperar as coisas acontecer para auxiliar, nós não fazemos. Então, faça hoje”.
Reintegração familiar
Hoje a adolescente e o bebê estão morando com um membro familiar, a irmã da menina. Eles iniciaram a reintegração familiar e durante um ano serão acompanhados pela equipe do SAF. Normalmente, depois que as crianças acolhidas são reinseridas em famílias extensas, o acompanhamento é de seis meses. Mas, como esse caso tinha mais complexidades o tempo será maior.
Ao ofertar o aconchego, o carinho do lar para as duas crianças, Francisco e Marizete ajudaram no processo de recuperação. Para Crispim Machado, que antes de integrar o serviço trabalhou 10 anos em instituições de abrigamento, essa opção é mais benéfica para superação dos traumas e desenvolvimento infantil. “O acolhimento familiar é totalmente diferente do institucional. Você ser parte de uma família é totalmente diferente de estar numa instituição”, comentou Machado.