Adotada aos 13 anos, adolescente muda de estado para morar com sua nova família

Não foi possível a manutenção dos vínculos com a família de origem, desta forma foi garantido o direito à integração com família substituta, conforme preconiza o Estatuto da Criança e do Adolescente

Adolescente embarcou nesta sexta-feira, dia 10. (Foto cedida)

“Eu já tinha visto em filme, mas realmente acontece: minhas bochechas tão doendo de tanto sorrir”, diz a adolescente acreana que foi adotada. Com a mochila pronta para partir e a expectativa de ver o mar, ela passou as últimas horas no Educandário Santa Margarida recebendo conselhos sobre ser obediente e estudiosa, o que ela continua a responder com mais sorrisos.

Foi a própria adolescente – que na época era uma criança de 10 anos de idade – que denunciou sua mãe na escola. “Ela pediu ajuda para a professora, porque a mãe batia muito nela. A situação era insuportável”, explica a assistente social, Alcinélia Moreira.

Então, o Conselho Tutelar verificou que realmente a estudante era vítima de maus tratos e negligência. A mãe permanece em um estado de dependência química e alcoólica, mesmo depois de ter passado um período internada na Associação de Parentes e Amigos dos Dependentes Químicos (Apadeq). Não se curou do vício e agora não possui endereço fixo.

Portanto, a juíza Rogéria Epaminondas autorizou a desconstituição familiar, em razão dos crimes de abandono (nutricional, educacional, psicológico e afetivo) e maus tratos. Contudo, depois de dois anos em acolhimento institucional, a adolescente terá a oportunidade de se desenvolver em um ambiente saudável.

A família adotante mora em Santa Catarina, assim para que esse encontro fosse possível, o prefeito de Rio Branco Tião Bocalom autorizou, por meio da Secretaria de Assistência Social, que a passagem aérea fosse concedida, possibilitando a  primeira viagem de avião da adotada. O embarque ocorreu nesta sexta-feira, dia 10.

Trabalho Multidisciplinar

Para esse caso, a equipe técnica do Núcleo de Apoio Técnico da 2ª Vara da Infância e Juventude empreendeu um verdadeiro esforço com a busca ativa de pretendentes a adoção no Acre e fora do estado.

Deste modo, a coordenadora da Infância e Juventude, desembargadora Regina Ferrari, aproveitou a oportunidade para agradecer toda a equipe da unidade judiciária, especialmente as assistentes sociais: Alcinélia Moreira e Maralice Pereira.

De igual modo, foi reconhecido o trabalho humanizado e qualificado da equipe técnica do Educandário. “Todos cuidaram bem da adolescente e aqui ela teve o apoio para superar seus traumas pessoais”, enaltece Ferrari.

A felicidade atual contrasta muito com a condição da menina no início do acolhimento. “Ela era muito retraída e triste, aí foi sendo ouvida, acompanhada, passando pelas terapias e aos poucos foi se abrindo”, contextualiza a administradora do Educandário, Cássia Derze.

Convivência

A adoção tardia se refere a crianças com mais de três anos de idade. “Um fato que me marcou muito foi o dia que ocorreu uma adoção de quatro irmãos, porque esse foi um momento muito difícil para ela. Eu a vi chorando pelos cantos por vários dias, até que ela me disse: tia eu nunca vou conseguir sair daqui, porque as pessoas só querem criança pequena”, compartilha Dannyelle Silva, assistente social do Educandário.

Mas esse não foi o desfecho da história. Inclusive, a adoção se deu por um motivo inusitado: “uma criança de oito anos de idade foi adotada e ela era muito amiga da adolescente. Então, a família fazia videochamadas aos sábados por causa dessa amizade. E depois de meses de contato, a família manifestou interesse de adotar a amiga que ficou no Acre”, conta Alcinélia.

Por ser adolescente, a equipe técnica estabeleceu um diálogo muito aberto para que ela compreendesse todas as atualizações processuais. “No dia que eu a chamei para falar sobre a possibilidade de adoção foi muito emocionante, ela repetia rindo: ‘eu não acredito, eu não acredito, isso é um sonho!’”.

Desde então foram dois meses de felicidade, expectativa e contagem regressiva.

 

Adoção Tardia

 

O Educandário Santa Margarida está atualmente com 20 crianças acolhidas, destas apenas duas são crianças de colo e é por isso que a Coordenadoria da Infância e Juventude empreende uma campanha permanente sobre a adoção tardia, para que as que estão disponíveis tenham alguma oportunidade de ter um lar.

A desembargadora Regina Ferrari comemora que pelo terceiro ano consecutivo ocorre uma adoção tardia no mês de dezembro e a criança pode passar o natal com sua nova família. Conheça essas histórias: Adoção Tardia em 2019 e Adoção Tardia em 2020.

Todas as crianças do Educandário escreveram cartas com seus pedidos de Natal e colocaram na árvore que fica na recepção da instituição. A adolescente queria ganhar um patins e esse pedido também foi realizado.

Miriane Teles | Comunicação TJAC

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