A arquibancada do ginásio Almiro Ferreira estava lotada de convidados e parentes dos noivos para prestigiar a celebração dos 58 casais
O vínculo jurídico entre duas pessoas que visa o auxílio mútuo, material e espiritual de modo que haja uma integração que abrange a dimensão física e psíquica e a constituição de uma família, formalmente é chamado de casamento. Entretanto, parafraseando a célebre frase da escritura cristã “sem amor, nada seria”.
O pacato município de Manoel Urbano, distante aproximadamente 230 km da capital Rio Branco, teve uma movimentação diferente neste sábado, 23. Apesar do calor, o clima predominante foi de emoção e principalmente de amor para 58 casais, em mais uma edição do tradicional Casamento Coletivo, do Projeto Cidadão, realizado pelo Tribunal de Justiça do Acre (TJAC). A ação compôs a programação do MP na Comunidade, realizado pelo Ministério Público do Acre (MPAC).
A arquibancada do ginásio Almiro Ferreira, região central do município, estava lotada de convidados e parentes dos noivos para prestigiar a celebração. Já o dispositivo de honra foi composto pelo prefeito de Manoel Urbano, Raimundo Toscano Velozo, pelos promotores de Justiça do MPAC, Daisson Gomes Teles, Diana Soraia Tabalipa Pimentel e Dayan Moreira. Além da delegatária da Serventia Extrajudicial Dirce Yukari e representantes do Poder Executivo estadual e municipal.
Após a entrada do pajem e das damas de honra, das noivas e dos noivos ao som da marcha nupcial, o ato solene foi conduzido pelo juiz de Direito Ednaldo Muniz, que gentilmente convidou o juiz de Paz da Comarca de Manoel Urbano, Rubenildo Costa. Assim, ambos lideraram a cerimônia em que as noivas e os noivos pudessem dizer um sonoro SIM!.
O magistrado falou sobre o principal benefício de atividades de cunho social. “A grande vantagem de ações sociais como essas, é trazer o serviço ao povo. Muitas vezes serviços que estão disponíveis, mas que o povo tem dificuldade de acessar”.
Em seu discurso, representando o MPAC, o promotor de Justiça Daisson Teles, falou sobre a segurança da cidadania para a comunidade. “Satisfação para o MP ver a presença de tantos casais unindo os laços afetivos. Hoje é um dia de festa para o município, um dia que a cidadania está sendo garantida à população”, concluiu.
O prefeito de Manoel Urbano, Raimundo Toscano falou da relevância da ação e a expectativa da comunidade. “O casamento coletivo é de grande importância, pois já era muito esperado pela população. É um momento muito feliz para o município e estão todos de parabéns”, finalizou.
Respeitando a tradição do formato do casamento coletivo do TJAC, dois casais são selecionadas e ganham local de destaque próximo ao púlpito. Assim, representando o casal mais experiente Francisco Silvestre Dias (67 anos) e Maria Silva de Souza (60 anos), e como casal mais jovem Thiago Supriano da Silva (19 anos) e Irma da Silva Lima (23 anos).
Muito extrovertido e de sorriso fácil, Francisco Silvestre disse que a união com Maria Silva já existe há 45 anos. Nesse momento, Maria, mais quieta e de poucas palavras, interrompe e corrige, “são 47 anos”. Eles são casados apenas na igreja e souberam do casamento coletivo através do rádio. Francisco entrega que a mulher, a princípio, não tinha interesse em casar e imitando o jeito dela: “Casar pra quê? Não temos bens pra dividir.” Contudo, ele sem titubear diz que já tinha interesse em “casar no papel” e quando soube que seria gratuito, juntou o útil ao agradável. Ele rebate o argumento da noiva e afirma que oficializar a união não se limita a divisão de bens, caso a morte os separe. “Não é questão financeira e sim questão de documentos. Quando Deus tira um do casal, e fica o outro, precisa para resolver a questão de documentos. Então, estando legalizado, não tem nenhum problema, não é verdade?”, finaliza.
Já o casal mais jovem soube da oportunidade numa postagem de uma rede social. Thiago e Irma, apesar de introvertidos e de poucas palavras, mas não esconderam a alegria de regularizar a união que já completa dois anos.
A força de ações dessa natureza ganham intensidade, graças ao auxílio de parceiros com ações aparentemente singelas, mas de importância gigante, desde a decoração da quadra à um bolo e refrigerante servidos ao final da solenidade.
Projeto Cidadão
O Projeto Cidadão é um trabalho social realizado pelo Tribunal de Justiça do Estado do Acre que tem como finalidade primordial, assegurar à população de menor poder aquisitivo o direito à documentação básica, bem como o acesso rápido e gratuito aos serviços públicos da área social. Ao longo de 27 anos do Projeto Cidadão, mais de 50 mil enlaces foram realizadas através do Casamento Coletivo.
O casamento coletivo do Projeto Cidadão é uma ação de cidadania, pois fornece de forma gratuita acesso a oficialização das uniões, para aqueles que não tem condições de arcar com os custos no cartório.