Solenidade de entrega de alvarás judiciais marca doação de recursos para projetos sociais

Marcada pela emoção, solenidade de entrega de alvarás aos 17 projetos beneficiados pelas penas pecuniárias reforça a importância do incentivo à políticas de ressocialização 

Como se fosse um recital, ao entrar no auditório da Escola do Poder Judiciário (Esjud) ouvia-se os primeiros acordes e os músicos afinando seus instrumentos. Uma atmosfera que misturava o nervosismo com expectativa da apresentação, no entanto a diferença é que não se tratava apenas de uma performance artística: os músicos eram socioeducandos que iam testemunhar por meio das notas musicais um novo arranjo de vida: o Som da Liberdade.

O evento se tratava da solenidade de entrega dos alvarás aos projetos que foram selecionados para receber recursos de penas pecuniárias da Vara de Execução Penal e Medidas Alternativas (Vepma), realizado nesta terça-feira, 6. Oficialmente, outras 17 iniciativas receberam o repasse de investimentos do Tribunal de Justiça do Acre (TJAC) para também fomentar mudanças sociais.

Um dos internos do Instituto Socioeducativo (ISE) pegou o microfone para anunciar a música escolhida e aproveitou a oportunidade para agradecer. Ele, que nunca tinha pegado um violão, disse que aprendeu com os hinos a valorizar sua própria vida. Emocionado, agradeceu também ao professor e ao Poder Judiciário “por se importarem”. Contou que quando sua mãe foi visitá-lo, mostrou que aprendeu a tocar e viu no olhar dela o orgulho do filho, aquilo o transformou. Simbolicamente, ele tocou e cantou uma música que se chama “Todavia me alegrarei”.

 

 

O que era uma agenda institucional tornou-se um episódio de emoções. A compreensão daquele momento sensibilizou muitos que foram as lágrimas. “Nós só transformamos pessoas, se a gente as respeitar. É preciso compreender as necessidades e ausências que delinearam suas trajetórias até o cometimento do ilícito”, complementou a juíza Andrea Brito.

As ações ilustraram a importância do apoio concedido pelo tribunal acreano. “A Vara de Penas Alternativas tem um trabalho de longa data e tudo que é arrecadado lá é destinado a projetos que realmente trabalham com a parcela da nossa sociedade que é vulnerável e realmente precisa de apoio, para além os órgãos públicos. Não precisamos de mais presídios, precisamos de ressocialização”, afirmou a desembargadora-presidente do TJAC, Waldirene Cordeiro.

Também estavam presentes a decana da Corte, desembargadora Eva Evangelista, o coordenador do Grupo de Monitoramento e Fiscalização (GMF) Robson Aleixo, a consultora do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) no Acre, Pâmela Villela, a promotora de Justiça Vanessa Muniz, o defensor público Cassio Holanda, o diretor-presidente do Instituto de Administração Penitenciária do Acre (Iapen) Glauber Feitosa, além de servidoras e servidores das instituições.

Investimento

Dos 17 projetos aprovados, 10 pertencem a segurança pública estadual. Deste modo, haverá novos investimentos no escritório social, no Programa Educacional de Resistência às Drogas (Proerd), ampliação da horta da fazendinha do complexo penitenciário, máquinas de costura para a unidade feminina, equipamentos de barbearia para a masculina, entre outras ações.

A presidente do TJAC parabenizou o grande número de projetos aprovados do Iapen e assinalou que a proatividade dessa gestão comprova o compromisso com os direitos humanos.

Outro destaque foi o projeto social “Em forma com a Polícia Militar”, coordenado pelo sargento Fontoura. Atendendo crianças e adolescentes, a frequência às aulas de jiu jitsu tem como requisito a matrícula escolar e boas notas. O militar explica que muitos talentos e atletas com potencial foram descobertos pelo projeto, inclusive chegando a disputar campeonatos locais e ganhando títulos. Contudo, a maior dificuldade é a aquisição de quimonos para treinarem, portanto assim será utilizado o dinheiro recebido, dando dignidade aos atletas.

 

 

Outras reflexões

“Hoje foi possível perceber que as questões complexas não podem ter intervenções simplistas. As demandas sociais exigem a garantia de direitos. As penas pecuniárias contemplarão a boas práticas de esporte, educação e esperança”, disse a consultora do CNJ, Pâmela Villela.

Em 2019, o ISE tinha 750 socioeducandos, hoje há 169. Ao fazer uso da palavra, a diretora do ISE, Núbia Musis, enalteceu a atuação do TJAC: “o tribunal está entregando para a sociedade mais do que a missão de julgar processos. Esses recursos cooperam para que hajam melhores condições de cumprir as medidas e que essas não sejam só punitivas, mas sim socioeducativas, como é proposto na Constituição Federal”. A gestora afirma que isso se deve a diminuição da reentrada de jovens, que não tem voltado ao crime.

A agenda se concluiu com a entrega simbólica de enfeites natalinos arrecadados entre os servidores do TJAC, que foram doados a unidade penitenciária feminina.

 

Miriane Teles | Comunicação TJAC

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