Juíza de Direito Substituta Glaucia Gomes, da Comarca de Mâncio Lima, realizou sua primeira celebração para uma centena de casais
Um das definições de amor, segundo o dicionário, é forte afeição por outra pessoa, nascida de laços de consanguinidade ou de relações sociais; ou afeição baseada em admiração. Inúmeras histórias que se cruzaram e culminaram numa grande festa de celebração ao amor, durante o casamento coletivo, do Projeto Cidadão com a solenidade para 100 casais, neste sábado, 23, na quadra da Escola Padre Edson Oliveira, em Mâncio Lima.
Após 40 anos de união, Joaquim da Silva, 80 anos, e Francisca Cardoso, 70 anos, moram na Vila Mâncio Lima. O casal de aposentados soube da ação através de seu genro, que também casou no mesmo dia. Eles já planejavam casar, mas devido ao alto custo das taxas, era um sonho constantemente adiado. Francisca fala da relevância de um projeto dessa natureza. “Acho muito importante, pois é de graça e ajuda quem não pode. É um facilidade pra nós. Estou me sentindo muito feliz”, conclui. O noivo também confirma “eu também estou me sentindo muito feliz, feliz mesmo”.
Francisca já tinha três filhos quando conheceu Joaquim, e nas quatro décadas de comunhão, não tiveram mais filhos. Porém, Joaquim criou todos os filhos de Francisca como se fossem seus, dando amor, carinho e ensinando os valores que norteiam sua vida.
Ivanete Lopes dos Santos é filha de Francisca Cardoso, da história contada nos parágrafos anteriores. Ela casou com Izael Mariano da Silva, juntos há 35 anos, cinco filhos e quatro netos, também aproveitaram a oportunidade para legitimar a união. “Um amigo me avisou por telefone do Projeto Cidadão, e nós já queríamos casar, depois chamei meu sogro e minha sogra para também realizar esse sonho, que fazia um tempo que queríamos realizar e não conseguíamos.
Francisco Narciso Silva Dias é irmão de Ivanete Lopes dos Santos (história contada no parágrafo anterior), mas apenas por parte de pai. Francisco casou com Maria José Cabral Rodrigues, com quem vive há 30 anos, quatro filhos e três netos. Eles souberam da oportunidade de casar gratuitamente, através de uma mensagem do whatsapp que a vizinha enviou. Francisco Narciso conta que o Projeto Cidadão “é uma benção, pois a gente já queria casar, mas tem que pagar e nossa condição financeira não permite. Estou muito feliz”, finaliza.
Do ensino médio até que a morte os separe
Edisio Conceição da Silva Nukini, 25 anos, e Sâmela Silva Moura, 23 anos, se conhecem e namoram desde o ensino médio, e estão juntos há 8 anos. Edisio é funcionário da prefeitura de Mâncio Lima e Sâmela, no momento, está desempregada. Eles já pretendiam casar há três anos, e tentaram no casamento coletivo de 2022, mas quando procuraram, as vagas já estavam esgotadas.
Assim, eles já estavam monitorando e aguardando a próxima oportunidade e quando souberam, “foi uma alegria muito grande. Simplesmente maravilhoso”, conta Sâmela. Então, Edisio organizou os documentos e foi ao Cartório fazer os procedimentos burocráticos.
O noivo comenta sobre o que significa uma atividade como o Projeto Cidadão. “Acho muito importante, porque tem muita gente que quer casar, mas tem custo, e aqui em Mâncio Lima custa R$530. As pessoas que necessitam e não têm condições, elas podem ter acesso através do Projeto Cidadão. No nosso caso, eu ainda estava juntando dinheiro e quando veio a oportunidade, foi perfeito, veio na hora certa.
Sâmela comenta sobre a trajetória e as dificuldades que o casal está enfrentando nesse momento e a emoção pela ocasião. “Ele é meu primeiro namorado, e espero que seja meu eterno marido, até que a morte nos separe. A gente começou a construir nossa vida agora, inclusive, a gente se mudou para nossa casa na semana passada, e tudo que esse início exige, por exemplo, feira pra fazer, móveis pra comprar, é muito difícil. Quando apareceu essa oportunidade, justamente no momento que a gente está mais apertado, quando penso nisso me dá vontade de chorar, mas de alegria”, comenta Sâmela se esforçando para que as lágrimas não borrasem a maquiagem.
Edisio também não esconde a emoção e o nervosismo. “Desde ontem não durmo direito, ansioso, acordei super cedo, não consegui mais dormir. É uma grande oportunidade, porque a gente ia casar, mas não ia ter cerimônia. E quando eu soube que ia ter cerimônia, a gente ia poder se arrumar, do jeito que a gente sempre quis. Eu, particularmente, sempre sonhei em encontrar a mulher certa e casar e foi a Sâmela, e no Projeto Cidadão vamos concretizar esse sonho”, disse emocionado.
Cerimônia
A juíza de Direito Substituta, Glaucia Gomes, da Comarca de Mâncio Lima, celebrou a cerimonia pela primeira vez e compartilhou sobre seu sentimento em vivenciar e testemunhar a união de uma centena de casais.
“Estou muito feliz, com o coração cheio de alegria e amor, porque hoje é a celebração da união, dois corações que resolveram bater juntos, no mesmo compasso, transferindo toda essa energia pra mim. Acabei de celebrar então ainda estou inebriada e falar de família, da base da sociedade, de projetos, partilhamentos, essa energia que eles trouxeram, eu saio bem mais feliz no dia de hoje”.
A magistrada falou ainda sobre o atuação do TJAC no âmbito social. “Hoje, através do casamento coletivo, considerando que a taxa para casamento é de pouco mais de R$500, em uma família que vive com parcos recursos, sendo que muitos são agricultura familiar, não tem condição de tirar esse valor do seu orçamento, para oficializar a união, e acabam vivendo uma vida inteira em união estável sem a oficialização. Então, o papel do Judiciário é suma importância, trazer esse serviço de cidadania, promovendo também uma justiça, que é trazer a acessibilidade, ou seja, a facilidade para aqueles em que a vida é um pouco mais difícil, proporcionando cidadania. Eu na qualidade de representante do Poder Judiciário, além de celebrante, eu fico muito feliz e honrada por participar do Projeto Cidadão. Faz tempo que eu queria muito participar desse Projeto e estar aqui hoje como instrumento do Poder Judiciário pra trazer justiça e cidadania é um motivo de orgulho pra mim”, finalizou emocionada.
A solenidade ganhou um momento cultural com a apresentação do promotor de Justiça, Christian Anderson Ferreira da Gama.
Compuseram o dispositivo de honra, a vice-governadora Mailza Gomes, os promotores de Justiça, Pablo Leones e Christian Anderson Ferreira da Gama, o defensor Público Diego Luiz, o diretor do Instituto de Identificação, Junior Cesar, e demais autoridades do Poder Executivo e Legislativo Municipal e Estadual.
A edição é realizada com apoio de diversas instituições e com financiamento do Convênio nº 402/2020 – Plataforma +Brasil nº 904427/2020, firmado entre o Tribunal acreano e o Ministério da Justiça e Segurança Pública.