“Vocês podem começar de novo já, não só quando saírem, mudando pensamentos e posturas. E quando ganharem a liberdade, que vocês façam tudo diferente”, presidente do TJAC, desembargadora Regina Ferrari em diálogo com as reeducandas
O projeto Abraçando Filhos aborda com sensibilidade e tenta diminuir o distanciamento afetivo entre mulheres privadas de liberdade e seus filhos. Atrás das grades, esse contato fica escasso por diversos motivos. A iniciativa do Poder Judiciário do Acre, que já é frequente em Rio Branco, foi levada pela primeira vez para Tarauacá nesta segunda-feira, 24.
Na capital, o projeto é realizado na própria sede do Tribunal de Justiça do Acre. Já em Tarauacá foi preciso adaptar o local de encontro entre as mães, seus filhos e familiares, e o auditório do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Acre (Sinteac), foi o local escolhido.
Mas, além do ineditismo da ação no município, um outro fato inédito marcou a edição do projeto. Na presença da presidente do Tribunal de Justiça do Acre (TJAC), desembargadora Regina Ferrari, do corregedor-geral da Justiça, desembargador Samoel Evangelista, da coordenadora da Infância e Juventude, desembargadora Waldirene Cordeiro, o juiz da Comarca de Feijó com competência prorrogada à Tarauacá, Robson Medeiros, leu a decisão do juiz de Direito, Hugo Torquato, titular da Vara de Execução de Penas no Regime Fechado, da substituição do regime fechado por prisão domiciliar com monitoramento eletrônico de uma mulher privada de liberdade.
Choros, abraços, sorrisos, foram imediatos diante do anúncio, não só pela mulher que ali teve a notícia de que vai poder voltar para casa, como também de sua irmã, sua filha e seu pai, que estavam no local, e das outras mulheres privadas de liberdade que participaram da edição do projeto.
O momento foi compartilhado pelo promotor de Justiça, Lucas Matos, o defensor público, Rodrigo Lobão, o senador Alan Rick, a prefeita de Tarauacá, Maria Lucinéia, o chefe da Divisão de Estabelecimentos Penais de Tarauacá, José de Jesus Viana, a coordenadora da Unidade Penitenciária Feminina, Marleide Falcão das Chagas, a diretora da Divisão de Estabelecimentos Penais Femininos de Rio Branco, Dalvani Azevedo, diretores, servidoras, servidores do Judiciário e agentes penais.
A mulher ficou presa por cinco anos e cinco meses e agora vai cumprir pena em prisão domiciliar com monitoramento eletrônico. Ela é filha de Maria Graça de Araújo, 59 anos, e mãe do menino de seis anos, ambos assassinados pelo ex-companheiro de Maria, no dia 9 de junho, em Feijó.
Emocionada, ela disse viver um duplo sentimento, o de muita dor pela perda trágica e recente da mãe e do filho, e o recomeço, pela chance que está tendo em poder cumprir o restante da pena em prisão domiciliar, tendo a oportunidade de cuidar da filha de oito anos.
O projeto
Durante a primeira edição do Abraçando Filhos em Tarauacá, a presidente do TJAC, desembargadora Regina Ferrari ressaltou que é a primeira vez que é realizada no interior uma edição do projeto que conquistou menção honrosa no Prêmio Prioridade Absoluta, realizado pelo Conselho Nacional de Justiça. Falou também que se trata de um projeto que tem alcance e magnitude humanitária, pelo fortalecimento de vínculos das crianças e dos adolescentes que estão muito tempo longe de suas mães.
A presidente também dialogou com as mães. “Queria dizer a vocês que acreditem em vocês. Nunca é tarde, tudo tem um recomeço. E esse cenário deve nascer no coração de cada uma de vocês. Vocês podem começar de novo já, não só quando saírem, mudando pensamentos e posturas. E quando ganharem a liberdade, que vocês façam tudo diferente”.
A desembargadora Waldirene Cordeiro, agradeceu aos parceiros da iniciativa. “Agradeço a todos os parceiros desse projeto, que tornam possível esse momento tão significativo para vocês, que é o encontro com seus filhos. Agradeço a presidente do tribunal pelo empenho, a prefeitura pelo apoio, ao Iapen pela colaboração”, disse a coordenadora da CIJ.
O corregedor-geral da Justiça também se dirigiu às mães e falou da importância do momento vivido por elas. “Dizer que nunca é tarde. Vocês estão passando pela provação. Essa provação deve ser bem recebida, deixar vocês ainda mais fortes. Que vocês possam voltar brevemente à sociedade, trilhando um outro caminho. Permanecem nessa provação um aprendizado, é retirado de vocês a liberdade, mas existem os outros direitos, inclusive esse da convivência com os filhos, isso permanece. Então, presidente, parabéns por esta iniciativa, por propiciar esse momento em que o Poder Judiciário cumpre o seu papel”, ressaltou o corregedor.