Adolescentes e jovens que estão sob a tutela do Estado encontram na medida socioeducativa um caminho para educação, restauração e integração
O Grupo de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário do Acre (GMF/AC) e a Coordenadoria da Infância e Juventude (CIJ) do Tribunal de Justiça do Acre (TJAC) realizaram vistoria nas unidades Acre e Aquiry do Instituto Socioeducativo do Acre (ISE/AC). A agenda anual propõe diálogo com direção e equipe da instituição, bem como checa as conformidades e inconformidades da estrutura e atendimento com as legislações vigentes.
Nesta segunda-feira, 19, o cenário encontrado não foi de superlotação e 100% dos internos estão estudando, sendo esses dois indicadores positivos. Durante a visita aos ambientes, a comitiva do TJAC teve contato com o módulo de saúde, cozinha, lavanderia, escola, biblioteca, áreas de convivência e alojamentos.
Quando adentrou em uma das salas de aula, a desembargadora Waldirene Cordeiro, coordenadora da Infância e Juventude do TJAC, perguntou aos alunos sobre o interesse em cursos profissionalizantes. Uma vez que, além dos dados quantitativos, a parte mais importante da atividade é a escuta ativa. Um estudante respondeu: “o que vier é lucro”, mas em seguida outro retrucou: “mecânica!”. A sugestão da política pública teve a concordância dos demais, logo eles enfatizaram sobre sua utilidade.
A inspeção foi acompanhada pelo promotor de Justiça Rodrigo Curti, que em outra sala de aula também entregou reflexões para os socioeducandos: “não tem aposentadoria no crime”. Então, concatenou ideias sobre educação, decisões e preparação para o futuro.
Em outros momentos, a juíza Andrea Brito perguntou sobre maus tratos. Questionamentos diretos, os quais representam uma importante oportunidade traduzida pela disposição do Poder Judiciário em olhar nos olhos de um adolescente e se inclinar por qualquer pedido de ajuda, caso fosse preciso. Mas esse não foi o caso, não houve nenhum relato ou reclamação.
Durante as conversas nos alojamentos, os jovens mostraram os origamis confeccionados recentemente. Dragões, ursos, pavões, caixas e outros designs desafiam o aprendizado do artesanato para aplicações criativas.
Como é peculiar da faixa etária e da situação, um assunto frequente foi sobre a ausência da família e do convívio familiar. Um deles, nascido em Feijó, só teve contato com seus parentes por videoconferência, lamentou a saudade. Outro disse que sua mãe está grávida e que vai deixar escolher o nome do seu irmão. Ele tem 15 anos de idade e com orgulho disse que escolheu ‘Lourenzo’ – essa novidade o encheu de alegria e vontade de voltar para casa.
Um interno que aguarda por uma cirurgia compartilhou que foi recolhido no dia que foi alvejado. O projétil ainda está em seu corpo. “Quando levei o tiro, eu fiquei sozinho. Eu refleti muito sobre essa segunda chance que recebi. Até minha vó olhou pra mim e disse – ‘tu quer viver trancado?’ (sic)- Não é isso que eu quero pra mim”, concluiu.