A história da família é marcada pela coincidência de ter duas felicidades no mesmo dia: “Flamengo e nosso filhos em casa”, dizem.
Duas vitórias no mesmo dia. Duas emoções únicas vividas por uma família carioca. Na mesma data que o Flamengo foi bicampeão da Copa Libertadores da América, time do qual Paulo Melo e Denise Arruda são torcedores, o casal levou seus filhos para casa.
O sábado, 23, foi realmente um momento histórico na vida do casal que estava habilitado para a adoção de gêmeos, por isso viveram o ápice da felicidade após três anos de espera. Para a conclusão do processo judicial, a última audiência estava marcada para o dia 22. Então, para ver um dos sonhos realizados, eles se deslocaram de Magé, município da Baixada Fluminense, para Rio Branco no Acre.
A vitória que é dos pais, também é, sem dúvidas, um ganho para os filhos, que conquistaram a oportunidade de terem suas vidas transformadas. Fase que já começou com a alegria de novas experiências: a primeira viagem e o primeiro passeio de avião.
Mas vai muito além disso, os irmãos acreanos passaram a ter estruturas importantes, compostas pelas referências que vão delinear sua personalidade para toda a vida: uma casa, um quarto, uma família e acima de tudo amor. Todos ganharam com a adoção.
Clima de felicidade
Paulo carrega no pescoço o símbolo do time que é sua paixão, Clube de Regatas do Flamengo. O torcedor do “Mengão” conta que se trata de uma paixão hereditária, porque seu pai também é flamenguista. E ele que é filho único, se diz flamenguista de nascença.
A paixão futebolística é compartilhada com Denise. Ambos são torcedores do time. Daí, toda a viagem foi estrategicamente programada: o retorno das “Terras de Galvez” partiria do Aeroporto Internacional Plácido de Castro pela madrugada e eles chegariam em casa a tempo de acompanhar a partida mais esperada do ano. O momento que o Flamengo representaria o Brasil na competição continental.
O palco da final da Libertadores foi bem pertinho do Acre, pois o estado faz fronteira com o Peru. O Flamengo recebeu a “Glória Eterna” no Estádio Monumental de Lima, capital peruana. A festa foi televisionada e a comemoração é então uma das primeiras memórias da nova família e o segundo sonho realizado neste ano.
Adoção Tardia
O casal de irmãos são gêmeos univitelinos e possuem oito anos de idade, por isso esse caso é considerado uma adoção tardia. Eles estavam sob acolhimento institucional há um ano. Os primeiros relatórios técnicos contidos no processo judicial constam a preocupação quanto à ruptura dessa estrutura familiar, tendo em vista que é mais difícil haver interessados em adotar mais de uma criança.
Contudo, os dados estatísticos não definiram esta história. Como diria a adotante, “é tão de Deus”, que ela descreve cada fase como se encaixasse perfeitamente num projeto já definido para se encerrar com sucesso. Inclusive, era mesmo o desejo deles adotarem dois filhos.
Devido à distância geográfica, a aproximação entre os (pretensos) pais e as crianças se iniciou por videochamada. O contato seguiu até a chegada dos adotantes à capital acreana. O encontro presencial ocorreu ainda no Educandário Santa Margarida.
“As crianças se identificaram com o casal e já o mencionam como pai e mãe. A integração na família de Denise e Paulo é um desejo expresso pelos infantes”, relatou o psicólogo da unidade Daniel Lima. Ele narrou ainda que os irmãos demonstraram contentamento e ansiedade para a mudança definitiva, o que comprova o quanto a reinserção em uma família era almejada pelas crianças.
Na semana em que estavam concluindo a adoção, ocorreu o seminário Pacto Nacional pela Primeira Infância no Acre, realizado na Escola do Poder Judiciário. A coordenadora da Infância e Juventude, desembargadora Regina Ferrari, convidou os adotantes para o evento com o objetivo de apresentar o case à Rede de Proteção Infantil. Por meio da história deles foi possível visualizar o significado do trabalho dos colaboradores da rede, “todos contribuem para bem”. Ela homenageou os convidados pelo exemplo de amor: “Felizmente, os gêmeos foram inseridos em uma família substituta e eles terão um novo destino”, resumiu.
No dia seguinte, parte da ansiedade se encerrou quando os pais receberam os documentos que formalizaram a homologação do processo adotivo. A nova família deixou a Cidade da Justiça com as Certidões de Nascimento. No futebol, a conquista é representada pela taça, aqui, esse pedaço de papel sintetiza essa trajetória e a vitória.
Depois disso, a foto foi logo compartilhada nos grupos de Whatsapp da família para todo mundo conferir o sobrenome, a filiação e ascendência. O registro foi muito comemorado. Entretanto, a celebração continuará no “Chá de Bem-Vindos”, organizado pelos parentes e amigos, programado para o próximo dia 1º de dezembro.
Compartilhe amor!
Paulo e Denise são casados há 12 anos. Eles tentaram ter filhos por sete anos, até conhecerem o diagnóstico de trombofilia, resultado que mudou as perspectivas desse projeto. O risco advindo da patologia justificou a escolha pela adoção. “Se eu engravidasse, eu correria grave risco e o bebê também”, disse.
A inscrição no cadastro estava decidida e a família aprovou a decisão. Todos passaram a ter esperança juntos. Logo, o primeiro ano foi o de maior expectativa, mas depois deste, surgiram dúvidas transitórias – será que vai acontecer mesmo?
A ligação mais aguardada ocorreu no dia 1º de outubro de 2019. Era o último dia de férias e o casal estava chegando do mercado. Maralice Souza, servidora da Vara da Infância e Juventude de Rio Branco se apresentou e foi a portadora das boas notícias.
“Essa será a fase mais incrível de nossas vidas! Com todos os prazeres, dores e responsabilidades de pais. Somos abençoados por ter nossos filhos em nossas vidas. O sentimento é de gratidão a Deus, pois Ele permitiu vivermos mais do que sonhamos”, disse a mãe.
A espera durou 1.095 dias, mas a alegria é eterna.